domingo, 6 de março de 2016

FALECIMENTO EM +04.03.2016 DE ADEMIR MIRANDA > (HOMENAGEM DE TELMA MIRANDA) REPRODUÇÃO


Telma Miranda  sentindo-se triste com Cabuquinho Miranda e outras 11 pessoas.
Muita gente se perguntando o motivo do meu luto tão dolorido, do choro, que segurei ontem o dia inteiro, mas que hoje me inundou. Ademir Miranda era “apenas” meu tio...
Respondo: não estava preparada para perde-lo, ainda mais da forma tão dolorosa que foi. Uma doença que não tem piedade.
Ocorre que, há mais de 30 anos, eu não perdi nenhum parente. Sempre brincava com isso. Principalmente com ele, que, sem sombra de dúvidas, é o mais bem humorado.
O cara que nunca reclamava de nada, observava tudo, e me dava sempre grandes conselhos. Desde pequena acostumei com ele passando em casa final da tarde para saber se estava tudo bem, se tínhamos comida, se tinha alguma novidade, sempre querendo saber de mim, do meu irmão, exercendo o papel de irmão mais velho da minha mãe.
Ninguém vira santo quando morre, e muito menos é perfeito quando vivo, mas, por escolha, não julgo e apenas retiro das pessoas o que elas tem de bom. Resultado, também, de tantas conversas com ele.
Engraçado como ele, assim como meu outro tio, o Amarildo, sempre estiveram por perto de mim em todas as fases da minha vida. Talvez pelo fato da mamãe e do papai terem separado e eles terem avocado essa responsabilidade da referência masculina. Não sei. Mas eu escolhi acreditar que o motivo era por eles me amarem profundamente, assim como eu os amo.
Não sou dada a grandes demonstrações, bem como, ao saber de sua enfermidade, escolhi não visita-lo porque não queria lembrar dele doente. Não consegui. Fui vê-lo. Mas quero guardar a lembrança que sempre tive dele, do homem firme, às vezes muito objetivo, como todo bom Miranda é, mas de grande sensibilidade, que cuidava de disfarçar bem, mas que durante nossas conversas sobre a vida, o futuro, nossos tropeços, transparecia sem censura alguma. Havia uma confiança mútua entre nós, porque ele sabia que eu o amava sem julgar suas escolhas e sem tentar fazer com que ele mudasse, pois nossa tônica sempre foi o respeito.
É essa a causa do meu sofrimento. Saber que, depois do dia de hoje, não mais ouvirei a minha mãe falar com esse amor que ela tem pelos irmãos e pais que transborda, que ele passou o final de semana com ela, que mataram um porco pra assar lá na Foz, do quanto eles conversaram na beira do rio a noite.
É esse o motivo da minha dor, pois nesses mais de trinta anos sem sofrer perda de carne da minha carne, apesar de rir e brincar a respeito (principalmente com ele!), eu nunca me preparei, de fato, e mesmo que por um acaso, eu tivesse me preparado, quando a hora chega, descobrimos que o preparo é apenas uma ilusão que criamos a fim de tentar sermos fortes diante da perda.
Perdi meu tio que também foi meu pai, meu amigo, meu conselheiro, meu fã (ele dizia que me admirava!), meu ombro onde tantas vezes chorei por causa das pancadas da vida, a pessoa que me dizia que eu iria conseguir ser o que eu quisesse e que ajudou a construir essa minha autoestima tão peculiar... Sou grata por tê-lo tido em minha vida. Agora é seguir, contar as suas histórias e não o decepcionar no tempo que me resta. Gratidão. Saudade. Amor. Família é isso.
Entenderam agora?